Qual caminho seguir quando um bebê nasce surdo?
Um dia, enquanto assistia ao documentário “Sou Surda e não sabia”, parei para observar um pouco da dinâmica da criança surda* dentro de uma família ouvinte. A gestação é um momento em que a família cria muitas expectativas sobre o sexo do bebê, sobre suas características, se nascerá saudável, entre outros… Mas, o que acontece quando seu filho(a) nasce e você descobre que ele é uma criança surda?
O que ocorre mais frequentemente é que após esta descoberta os pais passam por um processo de luto, pois as expectativas que criaram e alimentaram ao longo de pelo menos nove meses sobre o bebê não foram correspondidas. Além disso, poucas famílias têm conhecimento a respeito da surdez e acabam não sabendo como lidar com ela.
Quando a criança realiza os exames e constatam que ela é surda, os profissionais da saúde instantaneamente trazem aos pais ferramentas de como “eliminar” a surdez e apresentam os caminhos para oralizar a criança surda e assim deixá-la “normal”. Vemos que muitas vezes pela carga emocional e até pela falta de conhecimento com relação à surdez, os pais seguem as orientações sem questionar pois não conhecem outras alternativas.
Impactos da má orientação dos pais em crianças surdas
Bem, nenhuma criança vem com manual de instruções que mostre como devemos proceder. Como com qualquer outra criança cabe a cada família avaliar o caminho que deseja seguir. Porém, gostaria de compartilhar um pouco sobre o que tenho observado na maioria das dinâmicas familiares entre criança surda e família ouvinte e assim deixar mais uma opção para que os pais decidam como querem seguir.
Com a tentativa de que a criança surda seja “normal”, muitas famílias acabam fazendo com que a criança se adapte a dinâmica familiar, em poucos casos ocorre o contrário, a família se adaptar a criança.
Assim, por vezes as crianças surdas são submetidas aos processos de oralização e leitura labial, passam por cirurgias, entre outros procedimentos, porém não estabelecem nenhum contato com o aprendizado da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e assim acabam não se integrando aos ouvintes, nem conhecendo a comunidade Surda.
Em muitos casos há uma grande dificuldade de integração com a própria família. Você já imaginou como se sentiria caso compreendesse muito pouco do que está sendo dito em um grande almoço de família no Domingo, por exemplo?
O que a família pode fazer para dar suporte à crianças surdas
Sabemos que em qualquer situação tornar-se mãe e pai não é uma tarefa fácil. Quando a criança nasce há a necessidade de que os pais se adaptem ao bebê, sendo ele surdo ou não. Porém, a surdez não pode ser encarada como um fator limitante, mas sim como uma característica. Em alguns casos, os pais podem precisar da orientação psicológica de um profissional que compreenda a surdez e a cultura Surda, a fim de auxilia-los no cuidado com a criança.
Uma ação que considero muito enriquecedora para a família e para criança, é estabelecer contato com a comunidade Surda e a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Assim, a criança passa a ter referências de pessoas Surdas e a sentir que também pode fazer suas próprias conquistas.
* Utilizo no texto a palavra “surdo” para distinguir do termo “deficiente auditivo”, ao contrário do que se imagina o termo não é pejorativo e identifica a pessoa que possui uma surdez profunda, sendo o termo “deficiente auditivo” direcionado às pessoas com surdez leve a moderada. Também utilizo “Surdo” com “S” maiúsculo para identificar a pessoa Surda inseridas na comunidade Surda que compartilha de valores, história, língua e cultura.
Quais ações você tem tomado para auxiliar suas crianças. Deixe nos comentários e nos ajude a deixar este post mais completo.
